quarta-feira, 2 de março de 2011

UMA SESSÃO NO PLANETÁRIO DO IBIRAPUERA

Texto básico: Heitor da Rocha Azevedo Jr.
Atualização e adaptação: Irineu Gomes Varella

A um sinal de campainha abrem-se as portas da sala de projeção; acompanhando a extensa fila de espectadores, penetra o visitante em um recinto que se acha iluminado a meia-luz. Encontra-se, então, em um salão circular com 20 metros de diâmetro, encimado por uma cúpula de 13 metros de altura máxima. A silhueta da capital paulista estende-se ao redor de todo o salão permitindo reconhecer o Pico do Jaraguá e os principais edifícios da cidade de São Paulo.

No centro do salão, qual monstro estranho, destaca-se uma estrutura de aço, suportando duas grandes esferas, das quais se projetam inúmeras peças de formatos diversos. É ela que constitui o ponto focal do espetáculo que em breve irá ter início: o PLANETÁRIO "ZEISS", por muitos considerado "a oitava maravilha do mundo"

Ao soar de uma campainha fecham-se as portas do salão; o fundo musical diminui de volume até desaparecer. O momento é de espectativa; a conversa dos espectadores transforma-se em murmúrio. A um sinal de gongo começam os suaves acordes da Ave Maria.

Repentinamente sobre a cúpula iluminada do salão, surge o Sol, que se põe a descambar para o poente. A voz clara e pausada do expositor vai explicando o movimento aparente do Sol no firmamento e o crepúsculo da tarde. Cada vez mais baixo, desaparece finalmente o astro do dia ao cruzar a linha do horizonte oeste. A escuridão começa, então, a invadir a cúpula fracamente iluminada. Pouco a pouco, vão surgindo os primeiros pontos luminosos, os astros de maior brilho: a Lua, na fase que apresenta naquele mesmo dia; os planetas e finalmente, as primeiras estrelas, as chamadas de "primeira grandeza".

A escuridão é cada vez mais acentuada e as estrelas vão surgindo cada vez em maior número; já se avistam, agora, as principais constelações, cujos nomes o expositor vai desfiando, um a um. Os últimos clarões do crepúsculo vão se extinguindo. Finalmente é noite na cidade de São Paulo.

O céu de São Paulo apresenta-se, ao observador, com muito poucas estrelas: apenas as mais brilhantes podem ser avistadas. A poluição atmosférica causada pela fumaça lançada pelas industrias e pelos veículos que diariamente circulam em grande quantidade em nossas ruas, aliada à intensa iluminação urbana, impedem a observação das estrelas e astros de brilho mais fraco.

O expositor explica que irá retirar, aos poucos, toda a fumaça, apagar lentamente todas as luzes da cidade e remover todas as nuvens do céu. Ao som de Also Spracht Zarathustra de Richard Strauss, o céu vai se transformando. O firmamento torna-se ainda mais escuro e milhares de estrelas surgem diante do espectador em questão de poucos segundos.

O firmamento surge límpido, puro e profundo, como só pode ser apreciado do alto de uma montanha, longe da poeira e da fumaça das cidades e longe, também, da iluminação urbana. O momento é de encantamento, recolhimento e emoção. O visitante tem a impressão de que se encontra realmente ao ar livre, em noite límpida e calma, sob a cúpula estrelada do firmamento. As estrelas estão presentes aos milhares, até a magnitude 6,5; percebem-se os vagos contornos das nuvens de Magalhães, da nebulosa de Órion, da galáxia de Andrômeda e de inúmeros aglomerados.

Sirius brilha em todo o seu esplendor; Aldebaran e Betelgeuse mostram-nos sua cor avermelhada. Também avermelhado, vemos o disco de Marte; percebemos ainda Júpiter e Saturno. O suave fundo musical encanta-nos com a música dos mestres. Movimentando uma seta luminosa, leva-nos o expositor de constelação em constelação, apontando os detalhes de interesse de cada região do céu. Ao toque de um botão, projeta-se sobre o fundo do céu os nomes das constelações, o meridiano, o Equador Celeste e a Eclíptica. O pólo celeste sul é indicado por uma seta luminosa que aponta para a constelação do Oitante.

A outro toque de botão, passa a esfera celeste a movimentar-se, realizando em minutos o que, na natureza, levaria horas. As constelações do crepúsculo vão desaparecendo uma a uma ao passo que novas estrelas vão surgindo no levante. O expositor passa, agora, a tomar liberdades com a natureza: o Sol volta à nossa vista, porém com brilho reduzido, o que nos permite vê-lo contra o fundo das constelações do zodíaco, em companhia dos planetas. Estes, ao girar de uma chave, passam a descrever seus movimentos aparentes no firmamento.

Deixamos, agora, a latitude de São Paulo, dirigindo-nos para as regiões do pólo norte da Terra. Detemo-nos por alguns instantes nas regiões equatoriais, na latitude de 0º, correspondente à cidade de Macapá, para o expositor mostrar o aspecto que tem o movimento diurno da esfera celeste quando visto das regiões equatoriais. Nossa viagem prossegue e vamos pouco a pouco penetrando no hemisfério norte da Terra. Atravessando o círculo polar ártico, em pouco tempo chegamos ao pólo norte, latitude 90º.

Polaris, a estrela polar do hemisfério norte, brilha em pleno zênite; a Ursa Menor, que é a única das 88 constelações que nunca pode ser avistada em São Paulo, destaca-se bem no centro do firmamento. Todas as constelações do hemisfério norte apresentam-se aos olhos do visitante: a Ursa Maior, o Dragão, Cefeu e Cassiopéia, a Lira, a Águia, etc. A faixa leitosa da Via Láctea é vista com toda a nitidez. O expositor faz surgir o Sol e explica o fenômeno do "Sol à meia-noite", bem como o do dia de seis meses e da grande noite polar, de igual duração. Mostra o aspecto do movimento diurno visto do pólo, onde as estrelas giram em torno do observador, continuamente visíveis, sem terem nascer e nem ocaso.

Terminada a explicação voltamos à latitude de São Paulo, sob o trópico de Capricórnio. A Ursa Menor mergulha aos poucos no horizonte norte, ao passo que o Cruzeiro do Sul vai lentamente se elevando no céu. Finalmente, eis-nos de volta a São Paulo, 23,5º de latitude sul. Nossa excursão terminou. Para os lados do nascente, surge Vênus, a "estrela d'alva". Gradualmente vai o horizonte leste se tingindo de leves tons avermelhados, prenúncio de um novo dia. Os alegres acordes da "Alvorada", da ópera "O Escravo" de Carlos Gomes, fazem-se ouvir. A claridade aumenta; uma luz azulada estende-se por toda a abóbada celeste e as estrelas vão se apagando uma a uma, até desaparecerem por completo.

A luminosidade vai se tornando mais intensa, os tons mais dourados; finalmente, ao imponente "final" de Carlos Gomes, surge o Sol no oriente e finda a noite... e, com ela, o espetáculo do Planetário.

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